Quando a Dra. Karina Quintero, pediatra associada ao Ministério da Saúde do Panamá, começou a trabalhar com a Comissão de Cancro Pediátrico, ela observou a existência de uma elevada taxa de mortalidade entre crianças com cancro um pouco por todo o país.
“No Panamá, aproximadamente 90% dos pacientes com cancro infantil são diagnosticados numa altura já muito tardia, com o cancro em estágio avançado, o que faz com que as taxas de sobrevivência sejam muito baixas”, reflete.
Infelizmente, as baixas taxas de sobrevivência observadas no Panamá não são exceção – o mesmo se pode observar em outros países em desenvolvimento, de onde são oriundas uma grande percentagem de crianças.
Nestes países, a probabilidade de sobreviver a um cancro infantil a 30%. No entanto, as taxas de sobrevivência sobem para mais de 80% para crianças que vivem em países desenvolvidos, uma vez que conseguem ter acesso “aos cuidados ideais”.
Uma complexa interação de fatores contribui para taxas de sobrevivência mais baixas em países pobres e em desenvolvimento: entre esses fatores, incluem-se diagnósticos incorretos, capacidade diagnóstica insuficiente, atrasos no tratamento e abandono do tratamento.
A Iniciativa Global da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Cancro Infantil, estabelecida em 2018 e que conta com o apoio do St. Jude Children’s Research Hospital, visa abordar esses fatores e melhorar as taxas de sobrevivência do cancro infantil para 60% globalmente, até 2030.
Quando os serviços de tratamento são acessíveis, a maioria das crianças com a doença pode ser curada.
“O que é necessário é uma série de pequenos investimentos estratégicos para melhorar os sistemas de saúde. O estabelecimento de centros oncológicos nacionais de excelência é uma dessas medidas implementadas por meio da Iniciativa Global”, lê-se em comunicado.
Nos últimos 2 anos, mais de 12 países participantes da Iniciativa Global estabeleceram centros de excelência e fizeram investimentos para aumentar a capacidade da sua força de trabalho em saúde para oferecer serviços de qualidade a crianças com cancro.
Em países pobres e em desenvolvimento, a maioria das crianças com cancro procura tratamentos em instalações próximas das suas casas. No entanto, em quase todos esses países, a capacidade dos profissionais de saúde primária para diagnosticar precocemente e fazer encaminhamentos adequados para casos de cancro infantil é muito limitada.
Uma investigação global revelou que apenas 20% dos países relataram ter programas ou diretrizes de deteção precoce para fortalecer o diagnóstico precoce dos sintomas do cancro infantil ao nível de atenção primária. Além disso, apenas um terço dos países em todo o mundo têm sistemas de encaminhamento claramente definidos da atenção primária à atenção secundária e terciária, para casos suspeitos de cancro infantil.
A Iniciativa Global garante que os serviços estão coordenados em todos os níveis – da comunidade aos centros de tratamento especializados – e que os serviços sejam orientados para a prestação de cuidados mais perto de casa.
Foi graças a esta iniciativa que o Ministério da Saúde do Panamá desenvolveu um guia para permitir que os profissionais de saúde, principalmente os profissionais de saúde primária, entendam os sinais e sintomas do cancro infantil e sigam um processo de encaminhamento simplificado. Mais de 400 provedores de cuidados de saúde primários em todo o país receberam treinos acerca de deteção precoce e de diagnóstico oportuno de cancro infantil.
“Como resultado”, disse a Dra. Karina Quintero, “já observámos que cada vez mais crianças são diagnosticadas precocemente”.
Programas de deteção precoce e diretrizes para fortalecer o diagnóstico precoce dos sintomas do cancro infantil foram estabelecidos como prioridades regionais em países africanos e da América latina.
“Cuidar de crianças com cancro requer várias competências, incluindo enfermagem, suporte nutricional, apoio psicossocial, prevenção e controle de infeções, para além de cuidados de suporte e paliativos. A Iniciativa Global promove um modelo de atendimento que desenvolve as competências dos profissionais de saúde em diagnóstico, tratamento e serviços de apoio essenciais para o cancro infantil – garantindo atendimento abrangente”, dizem os responsáveis.
Krishna Paudel, que trabalha no Ministério da Saúde do Nepal, descreve de que forma o país está a construir uma força de trabalho multidisciplinar para melhorar os resultados de saúde no tratamento do cancro infantil.
“Quando estamos a cuidar de uma criança com cancro, temos de garantir que estamos a trabalhar com muitas pessoas, desde médicos, a auxiliares, enfermeiras, psicólogos, etc.. apercebemo-nos de que, no Nepal, os nossos enfermeiros não estavam a receber as habilitações básicas necessárias para cuidar de uma criança com cancro. Nesse aspeto, a Global Initiative for Childhood Cancer ajudou-nos imenso, uma vez que mudou o nosso foco e nos fez perceber que temos que trabalhar mais com os enfermeiros, uma vez que são eles quem passa mais tempo com os pacientes e com os familiares”.
“É muito importante que os enfermeiros conheçam os desafios envolvidos no tratamento do cancro infantil e que sejam treinados para apoiar as famílias neste momento difícil”.
Desde 2018, dez países, incluindo o Nepal, desenvolveram um programa de treino baseado em competências para fortalecer a força de trabalho em saúde com cancro infantil.
Ainda assim, a assistência técnica da OMS aos governos para apoiá-los na construção e manutenção de programas de cancro infantil de alta qualidade vai além do estabelecimento de centros oncológicos de excelência e redes de atendimento. Também inclui a cobertura universal de saúde ao integrar o cancro infantil como parte de toda a gama de serviços essenciais e dentro dos pacotes de benefícios; roteiros para diagnóstico e tratamento; e avaliação e monitoramento por meio de sistemas de informação e pesquisa robustos.
“Ao fazermos estes investimentos estratégicos, podemos vir a salvar a vida de mais de um milhão de crianças na próxima década”.
Fonte: WHO