Calioásis, a pequena associação que faz uma grande diferença na vida das crianças com cancro infantil

“No cancro pediátrico, quaisquer 5 minutos de distração, tanto para as crianças como para os cuidadores, são momentos de ouro, de alívio.”

Foi a partir desta ideia que, em 2020, nasceu a Calioásis, uma associação sem fins lucrativos, que pretende apoiar famílias afetadas pelo cancro pediátrico, através de uma abordagem holística centrada na humanização de cuidados à criança ou jovem doente e aos seus cuidadores.

Com a ambição de fazer a diferença na promoção da saúde mental, qualidade de vida e bem-estar destas famílias, a Calioásis “surgiu da necessidade que várias pessoas, incluindo mães de crianças com cancro e profissionais da área da oncologia pediátrica, sentiram de colmatar algumas lacunas e de complementar o que já é oferecido pelo Estado, através dos Hospitais e dos Centros de Saúde, e por outras organizações sem fins lucrativos”.

“’Cali’ vem do grego e significa belo. Portanto o nome ‘Calioásis’ vem da nossa vontade de construir um ‘belo oásis’”, explica Anabela Figueiredo, Presidente da associação.

Neste momento, a Calioásis divide-se em dois grandes polos: o Centro de bem-estar e o projeto CaliSense, este último vencedor de uma bolsa de financiamento por parte do programa Portugal Inovação Social, em dezembro de 2021, e que se estenderá por 18 meses.

Ainda no papel, o Centro de bem-estar pretende ser um local “inclusivo, com espaços exteriores e interiores totalmente acessíveis a crianças em cadeiras de rodas, capaz de possibilitar a partilha de momentos entre pares”.

A principal ideia é que as crianças vejam este centro como um local “completamente diferente de um hospital”, localizado no meio da natureza, de preferência perto do mar, onde possam ser prestados apoios mais transversais e lúdicos.

A pensar nas dificuldades financeiras das famílias afetadas pelo cancro infantil, este será um espaço gratuito, uma vez que “a parte financeira também é muito afetada durante todo este processo. Normalmente, o cuidador deixa de trabalhar e, no caso de famílias monoparentais (que são muitas) o cuidador é o único sustento da casa. Esse é um tipo de alívio que queremos oferecer”, diz Anabela Figueiredo.

Já o Projeto CaliSense está plenamente implementado na região Centro do país, onde opera em coordenação com o Hospital Pediátrico de Coimbra.

Totalmente direcionado para as famílias, este projeto “desenvolve-se em 4 grandes eixos: o Body and Mind, que engloba a atividade física (e que inclui personal trainer, ginástica adaptada e yoga); o Liberta Pais, onde disponibilizamos amas para crianças mais pequenas, de forma a ser possível libertar os cuidadores durante o tempo em que a ama está com a criança; a Ludoterapia, dedicada a crianças com menos de 6 anos, que serve para desenvolver, de uma forma lúdica, alguns aspetos que tenham sido afetados, como a parte escolar, para que possam integrar o 1º ciclo de uma forma mais completa; e, finalmente, a Terapia pelas Artes, que inclui dança, música, pintura”.

Segundo Anabela Figueiredo, todos estes eixos estão em constante desenvolvimento, sendo “revistos e reformulados consoante vamos encontrando novas necessidades”.

Uma das grandes vantagens do CaliSense é o seu grau de personalização, algo fundamental num projeto que abrange crianças e adolescentes com idades que variam entre os 0 e os 18 anos.

“Nós temos quase uma atividade por família, em casa ou na área de residência”, explica a Presidente da Associação.

O impacto destas atividades faz-se sentir em todo o seio familiar.

“Felizmente, temos a perceção de que o nosso trabalho tem, não só, um impacto direto na criança, no sentido em que ela está a desenvolver novas atividades, mas também no cuidador: se, por um lado, os cuidadores ficam contentes e descansados, pois sabem que a criança está bem enquanto está aos nossos cuidados, por outro, podem aproveitar esse tempo para fazerem o que quiserem. Daí que eu diga que o nosso trabalho, e o impacto que temos, abrange toda a família”.

Anabela Figueiredo relembra que, no início, houve algum receio de que o projeto CaliSense não fosse bem recebido, principalmente por entidades que não pais ou profissionais de saúde.

“Quando desenvolvemos o projeto CaliSense, por sermos uma organização tão recente e com uma base totalmente voluntária, tivemos algum receio de o candidatarmos ao programa Portugal Inovação Social e de ele ser, ou não, aprovado.  Até porque, para podermos proceder à candidatura, precisávamos de ter investidores sociais que correspondessem a 30% do valor total do projeto. E isso trouxe-nos algum medo. Mas a verdade é que nós conseguimos esse investimento num curto espaço de tempo, através de câmaras municipais e de empresas, e por isso podemos dizer que sentimos, e isso é válido para todos os nossos projetos, uma grande recetividade”.

“Lembro-me de uma médica nos dizer, quando ficou a par do nosso projeto, que isso eram “ideias do estrangeiro”. Eu percebo esse ponto de vista porque, realmente, o projeto CaliSense é outra forma de pensar e de complementar o que já existe”.

“Por exemplo, na parte psicológica, existem as intervenções realizadas por psicólogos e psicólogas, que são muitíssimo importantes, mas às vezes também podemos criar um outro tipo de impacto através de intervenções mais lúdicas. É isso que nós propomos. Complementar o apoio que é dado pelos profissionais de saúde com outro tipo de apoios. E, pelos vistos, não somos os únicos a acreditar nisso, porque especialistas e pessoas ligadas a projetos de inovação social, também consideram o mesmo”.

A aprovação por parte do programa Portugal Inovação Social veio dar uma “validação ao trabalho que desenvolvemos. Tivemos muitas dúvidas, mas a aprovação de um projeto tão recente como o nosso, no valor de 165 mil euros, foi um feito. E depois, com o contacto que vamos tendo com as pessoas ligadas a outras áreas, vamos percebendo que, de uma forma geral, temos o apoio da sociedade”.

Com pouco mais de 2 anos de atividade e um feedback fantástico por parte de quem os segue, o futuro adivinha-se risonho para a Calioásis.

Mas Anabela Figueiredo afirma que o trabalho desta associação não irá ficar por aqui.

“Queremos continuar a melhorar o projeto CaliSense e, quem sabe, implementar uma espécie de CaliSense 2.0. Sem dúvida que iremos continuar a desenvolver os nossos projetos ao domicílio, mas estamos também a trabalhar em novas atividades, que podem passar por atividades em grupo, online, etc”.

“Uma das nossas grandes prioridades é trabalhar a sustentabilidade financeira da Associação e de todos os projetos nela envolvidos. Temos já contratadas duas profissionais e queremos manter esses postos de trabalho, por elas e pela resposta que estão a dar. Essa é a nossa grande prioridade”.

“Para além de continuarmos a trabalhar com o Hospital Pediátrico de Coimbra, também queremos expandir o nosso trabalho para outros hospitais, e contactar com outras organizações internacionais, como aliás já o temos feito, para que possamos desenvolver novas parcerias e criar novas ideias”.

Mais informações sobre a Calioásis, estão disponíveis aqui.

Fonte: Fundação Rui Osório de Castro

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