Uma investigadora do Amsterdam University Medical Center, na Holanda, pode ter feito história ao liderar uma descoberta revolucionária na área da oncologia pediátrica.
Especializada em Biologia Molecular e Celular, Caitrín Crudden é uma investigadora focada na investigação em sarcomas infantis, um tipo de cancro onde as células cancerigenas se começam a desenvolver nos tecidos moles do corpo de uma criança.
Os tecidos moles são os tecidos que ligam, apoiam e circundam as partes e órgãos do corpo e incluem músculos, tendões, tecidos conjuntivos, gordura, vasos sanguíneos e nervos.
Juntamente com a sua equipa, a investigadora descobriu que existia “um mal-entendido fundamental sobre os recetores especializados, que estão presentes na superfície das células”.
Segundo Caítrin, a sua investigação “verificou a existência de um erro no entendimento da forma como um receptor específico, ao qual as células cancerigenas do sarcoma infantil respondem, funcionava. Ao termos uma melhor noção acerca deste mecanismo molecular, fomos capazes de observar o direcionamento de um fármaco de uma nova perspetiva”.
A trabalhar na área da oncologia pediátrica há mais de uma década, Caítrin descobriu que “podemos usar um medicamento antidepressivo amplamente prescrito, a paroxetina, para controlar esse recetor , que retarda o crescimento de tumores de sarcoma infantis em cobaias animais”.
“Estou muito feliz com estes resultados, uma vez que esta descoberta demorou 6 anos até ser feita”.
O próximo passo da investigação será a de testar esta nova descoberta em ensaios clínicos.
“Eu estou a trabalhar para entender de que forma as células comunicam entre si, e de como essa comunicação, quando feita de uma maneira errada, desencadeia a doença oncológica. Assim que eu e a minha equipa formos capazes de entendermos este mecanismo com mais clareza, acredito que poderemos vir desenvolver terapias anticancerigenas mais eficazes”.
A investigadora lembra que, atualmente, crianças diagnosticadas com este tipo de cancro são “tratadas com combinações altamente agressivas de cirurgia, radioterapia e quimioterapia, que podem ter efeitos secundários nefastos a curto e longo prazo”.
Ainda assim, e apesar da felicidade por esta descoberta, Caítrin afirma que o trabalho de um investigador “não é tarefa fácil”.
“É um trabalho que pode ser muito stressante a vários níveis. Em primeiro lugar, o problema que investigamos é extremamente complexo, o que significa que o fracasso e a frustração são, muitas vezes, a norma na nossa rotina”.
“Em segundo lugar, a investigação, nomeadamente ao nível da oncologia pediátrica, é francamente subfinanciada, o que significa que perdemos grande parte do nosso tempo à procura de financiamento, tempo esse em que deveríamos estar inteiramente dedicados a procurar formas de melhorar a vida destas crianças”, lamenta.
“Para se ser investigador, é preciso ser-se resiliente”.
E é essa mesma resiliência que faz com que Caítrin não desista de alcançar os seus objetivos, nem de continuar a incentivar outras pessoas a abraçar a investigação médica.
“Tento sempre aliciar outras pessoas a juntarem-se a mim e a tornarem-se investigadores. Seja em que área for. Com o meu trabalho, também espero conseguir mostrar aos jovens que eles não podem, apesar das dificuldades, parar de explorar ou de fazer perguntas sobre o mundo. O mundo da ciência precisa desse permanente questionamento para andar para a frente. Só assim podemos melhorar a vida daqueles que mais precisam de nós”.
Fonte: Impartial Reporter