Um ensaio clínico conduzido nos Estados Unidos revela que a presença de cães terapêuticos pode ajudar a reduzir a ansiedade de crianças e dos seus pais durante o atendimento em serviços de urgência pediátrica. O estudo, publicado na revista JAMA Network Open, demonstrou que uma curta interação com cães treinados, em conjunto com os cuidados pediátricos habituais, teve impacto positivo na experiência hospitalar.
A ansiedade é uma queixa comum entre crianças que recorrem à urgência, muitas vezes agravada por procedimentos médicos invasivos como análises ao sangue ou colocação de cateteres. A resposta tradicional passa, em alguns casos, por recorrer a sedação — mas este estudo explorou alternativas não farmacológicas.
Entre fevereiro de 2023 e junho de 2024, 80 crianças com idades entre os cinco e os 17 anos foram incluídas no estudo. Metade recebeu apenas os cuidados pediátricos habituais, enquanto as restantes tiveram, adicionalmente, uma interação de cerca de 10 minutos com um cão terapêutico certificado e o seu condutor.
Os resultados mostram que, ao fim de 45 minutos, a ansiedade média relatada pelas crianças no grupo com cão terapêutico diminuiu mais significativamente do que no grupo de controlo (−2,7 vs. −1,5 pontos numa escala de 0 a 10; p = 0,02). Os pais também relataram melhorias semelhantes (−3,2 vs. −1,8 pontos; p = 0,008). Além disso, mais crianças do grupo com cão tiveram uma redução de ansiedade superior a 2,5 pontos.
Embora as medições de ansiedade ao fim de 120 minutos já não mostrassem diferenças relevantes entre os grupos, os investigadores observaram uma tendência para menor necessidade de sedação no grupo de intervenção (18% vs. 35%).
Apesar das limitações do estudo — como a impossibilidade de ocultar a presença do cão aos participantes e a variabilidade nos cuidados pediátricos padrão — os autores defendem que a intervenção tem potencial para complementar os cuidados em contextos hospitalares com equipas especializadas.
Este estudo foi liderado por Heather P. Kelker, do Departamento de Medicina de Emergência da Indiana University School of Medicine (EUA), e representa um avanço promissor na procura de abordagens mais humanas e menos invasivas para apoiar crianças em momentos de maior vulnerabilidade.
Fonte: Medscape