Verificar se há a hipótese de doença residual mínima no início do tratamento pode ajudar alguns jovens pacientes de alto risco a evitar o transplante de medula óssea sem comprometer a sua sobrevivência a longo prazo.
Esta foi a conclusão de um estudo internacional realizado pelo St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos.
Publicado no Journal of Clinical Oncology, o estudo envolveu crianças e adolescentes com leucemia linfoblástica aguda com hipodiploidia, um subtipo de alto risco de leucemia que representa cerca de 2% de todos os casos pediátricos da leucemia linfoblástica aguda.
Este subtipo é caraterizado por um mau prognóstico e células leucémicas com 25 a 44 cromossomas, em vez dos habituais 46.
O prognóstico fez com que muitos especialistas em leucemia defendessem o tratamento desses pacientes com quimioterapia intensiva, seguida de transplante alogénico de medula óssea. O transplante, no entanto, tens os seus próprios riscos de saúde a curto e longo prazo.
A investigação constatou que, em casos de leucemia linfoblástica aguda com hipodiploidia, o transplante não melhorou significativamente a sobrevivência dos pacientes, em comparação com a quimioterapia isolada.
No entanto, a terapia contemporânea direcionada ao risco – com intensidade de dose baseada na resposta precoce ao tratamento, determinada pela medição de níveis residuais mínimos de doença na medula óssea após a quimioterapia de indução de remissão – foi associada a melhores resultados dos pacientes.
Resposta e sobrevivência
“Este estudo confirma estudos anteriores que defendiam que pacientes com leucemia linfoblástica aguda com hipodiploidia, que não têm evidência de doença residual mínima após a terapia de indução de remissão, não devem ser transplantados”, disse Ching-Hon Pui, autor do estudo e presidente do Departamento de Oncologia da instituição.
“Recomendamos o tratamento continuado com quimioterapia intensiva”.
A terapia de indução de remissão abrange as primeiras 4 a 6 semanas de quimioterapia.
Pacientes com doença residual mínima são definidos como tendo menos de 1 célula leucémica em 10 mil glóbulos brancos na medula óssea.
No geral, 58% dos pacientes no estudo tornaram-se sobreviventes de longo prazo.
As taxas de sobrevivência a longo prazo livres de doença foram de 75% para os 87 pacientes que não tinham doença residual mínima após a quimioterapia de indução de remissão; as taxas foram semelhantes (74%) para pacientes com hipodiploidia com 44, em vez de menos, cromossomas.
Transplante e sobrevivência
O estudo incluiu dados de 306 pacientes com leucemia linfoblástica aguda com hipodiploidia que foram incluídos em 16 protocolos diferentes entre 1997 e 2013.
Apesar dos resultados, os investigadores ainda têm dúvidas sobre como melhorar os resultados para pacientes com menos de 44 cromossomas com doença residual mínima após a terapia de indução.
Esta análise descobriu que, em comparação com a quimioterapia intensiva isolada, o transplante não proporcionou uma vantagem significativa de sobrevivência em pacientes com menos de 44 cromossomas.
A sobrevivência global ajustada a 5 anos foi de 57,7% para os 186 pacientes tratados com quimioterapia isolada em comparação com os 68,9% para os 42 pacientes tratados com quimioterapia e transplante de medula óssea.
Segundo os investigadores, a diferença não é significativa, principalmente se foram considerados os riscos para a saúde a longo prazo; por isso, não necessários estudos adicionais.
Medicina de precisão
Os especialistas acreditam que o crescimento da medicina de precisão é extremamente promissor para melhorar os resultados de pacientes com leucemia linfoblástica aguda com hipodiploidia e outros subtipos de alto risco.
A lista de possíveis tratamentos promissores inclui células T modificadas por recetores de antígenos quiméricos, anticorpos geneticamente modificados e inibidores direcionados às vias de sinalização celular que impulsionam a proliferação.
O estudo incluiu 17 coautores de 17 centros médicos e instituições de pesquisa na Europa, Ásia e Israel.
Fonte: Medical Xpress