O objetivo é “valorizar as queixas dos mais pequenos”. Em entrevista ao Jornal Público, a médica e coordenadora do Grupo de Dor na Criança e Adolescente da associação, Clara Abadesso, explicou que, ao desenhar, “as crianças conseguem descrever a sua experiência de dor de uma forma incrível” expressando-a em várias dimensões.
“Tratar a dor nas crianças continua a representar um enorme desafio para os profissionais de saúde e é um motivo de grande preocupação e aflição dos pais”. Esta iniciativa, que esteve patente no Hospital Pediátrico de Coimbra, na exposição Vou Desenhar a Minha Dor, obriga os adultos a olhar para a dor dos mais pequenos. A exposição será itinerante, estando presente em várias unidades hospitalares do país.
A iniciativa, patrocinada pela Bene Farmacêutica, dividiu-se em três escalões etários: menos de 6 anos; dos 6 aos 8 e dos 9 aos 12 anos. Para Clara Abadesso, enquanto as crianças estão a desenhar, ao focarem-se numa atividade agradável e estimulante, distraem-se, o que “pode ajudar a reduzir a dor”.
A exposição alerta ainda para a existência de “soluções e estratégias não farmacológicas que deverão ser empregues no dia a dia nos serviços de saúde para minorar o problema da dor”.
Segundo a International Association for the Study of Pain (IASP), a dor é uma “experiência multidimensional desagradável, envolvendo não só uma componente sensorial, mas também uma componente emocional, e que se associa a uma lesão tecidular concreta ou potencial, ou é descrita em função dessa lesão”.
Para Clara Abadesso, que corrobora a definição da IASP, a dor é “uma experiência individual, subjetiva e multidimensional” que não resulta “apenas da parte sensorial” tendo uma parte emocional “baseada no estado afetivo, experiências de dor passadas, etapa de desenvolvimento e muitos fatores de ordem pessoal, cultural e até espiritual”.
Para além disso, a médica acredita que existe ainda uma parte comportamental, que se prende com a forma como “a pessoa vai reagir à dor, que também é muito variável e pode até condicionar uma amplificação ou redução da dor.”
Ainda que considere a dor “um dos problemas médicos mais ‘incompreendidos”, subdiagnosticados e subtratados”, na entrevista, a especialista valorizou o trabalho da investigação científica dos últimos 25 anos, ainda que defenda que existe muito a fazer para que “a prevenção, o diagnóstico e o tratamento da dor sejam mais eficazes, quando se introduz na prática clínica o que já se demonstrou na investigação cientifica”.
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