De acordo com Shai Izraeli, diretor do Departamento de Hematologia-Oncologia do Schneider Children’s Medical Cente, em Israel, “até 2040, vai ser possível curar todas as crianças com cancro”.
“Há uma frase que eu digo a todos os pais de crianças com doença oncológica: ´o nosso objetivo é que os vossos filhos se tornem avós’. Ou seja, a nossa missão, enquanto médicos, é a de curarmos estas crianças e garantir que elas tenham uma vida longa”, disse o médico ao The Jerusalem Post.
Shai recorda que, quando ele próprio era uma criança, a maioria das crianças com doença oncológica acabavam por falecer. Depois, já na década de 1980, quando o então estudante frequentava a Faculdade de Medicina, as taxas de sobrevivência já tinham aumentado para cerca de 30%.
Hoje em dia, de uma forma geral, 83% dos pacientes com cancro infantil conseguem tornar-se sobreviventes a longo prazo.
“Se falarmos de cancros específicos, como o linfoma de Hodgkin ou a leucemia linfoblástica aguda, as taxas de sobrevivência são hoje superiores a 90%”.
De acordo com o National Cancer Institute dos Estados Unidos, os tratamentos aprimorados introduzidos no início das décadas de 1960 e 1970 aumentaram a taxa de sobrevivência a 5 anos para crianças diagnosticadas com leucemia linfoblástica aguda entre os 0 e os 14 anos, de 57% em 1975 para 92% atualmente. Da mesma forma, a taxa de sobrevivência a 5 anos para crianças diagnosticadas com linfoma não-Hodgkin, entre os 0 e os 14 anos, também aumentou de 43% em 1975 para 91% hoje em dia.
Shai Izraeli defende que existem várias razões para o seu otimismo; a primeira é o aprimoramento da genómica, que permite aos profissionais de saúde entenderem melhor as interações entre os genes e o meio ambiente, ajudando-os desta forma a fornecer um diagnóstico mais preciso.
A segunda razão prende-se com as melhores ferramentas de diagnóstico, que permitem que os médicos tenham uma melhor visão de como os pacientes estão a responder aos tratamentos; por último, “os vários novos medicamentos e combinações de medicamentos que estão a ser desenvolvidos”.
Para o médico, enquanto no passado as empresas farmacêuticas estavam menos inclinadas a desenvolver medicamentos para crianças com cancro, uma vez que esta é uma doença considerada rara principalmente quando comparada ao cancro em adultos, as mudanças nos regulamentos do regulador de saúde norte-americano (FDA) e da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) vieram alterar essa realidade, embora ainda exista um longo caminho a percorrer.
O também investigador faz questão de referir que o cancro infantil é muito diferente do cancro em adultos.
“Nos adultos, existe o fator envelhecimento, por exemplo. Quanto mais velhos ficamos, mais desgaste sofremos, maior a exposição a agentes cancerígenos e maior a probabilidade de desenvolvermos cancro. No caso das crianças, com algumas exceções, obviamente, podemos dizer que é uma questão de ‘má sorte’, geralmente o resultado de acidentes raros durante o desenvolvimento ou crescimento embrionário”.
Além disso, refere, o tratamento do cancro infantil é “menos complexo”, uma vez que os tumores infantis tendem a ser biologicamente mais simples, dado que tiveram menos tempo para se desenvolver.
“Uma criança de 3 anos com leucemia só teve 3 anos e 9 meses para desenvolver a doença. Por outro lado, sabemos que a leucemia diagnosticada numa pessoa de 50 anos pode ter-se desenvolvido ao longo desses mesmos 50 anos.”
Mas sobreviver ao cancro “não pode ser o único objetivo”, diz Shai.
“Temos que trabalhar em formas de reduzir a toxicidade dos tratamentos e de os tornar mais precisos”.
Vários estudos recentes mostraram que, mesmo quando curados, os sobreviventes de cancro infantil não são necessariamente saudáveis.
Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association descobriu que uma grande percentagem de pessoas com idades entre os 18 e os 60 anos que foram tratadas com quimioterapia, radioterapia, ou ambas, tiveram problemas médicos, incluindo perda auditiva (62%), níveis anormais de colesterol (61%), infertilidade masculina (66%), disfunção hormonal (61%) e função pulmonar anormal (65%), entre outras complicações.
Fonte: The Jerusalem Post