A vida da nossa família mudou de uma forma drástica quando, em 2013, a nossa filha de 2 anos foi diagnosticada com uma neuroblastoma.
Durante 4 anos, a Evie foi sujeita a tratamentos que pareciam intermináveis, até que, a 19 de dezembro de 2017, ganhou asas de anjo.
Ao longo da nossa jornada contra o cancro, houve momentos de extrema alegria, de dor, de agonia, de desespero, de amor, de carinho e de confiança. Hoje, a minha filha não está ao meu lado, mas o que ela me deixou foram memórias inesquecíveis que guardo no meu coração.
E sim, aprendi algo com o cancro, diz-se que mesmo nos momentos maus aprendemos algo. Estas foram algumas lições que eu fui aprendendo ao longo do caminho.
1- O cancro não discrimina
Lembro-me que uma das primeiras coisas que o médico de Evie nos disse foi que, nem eu nem o pai dela, tínhamos culpa do que estava a acontecer. O cancro infantil não é como o cancro dos adultos. Não há maneira de prevenir, e ele pode afetar qualquer criança, seja qual for género, a raça, a situação socioeconómica.
Quando o nosso filho está doente, perguntamo-nos muitas vezes o que poderíamos ter feito para evitar aquela situação.
E depois há aquelas pessoas bem-intencionadas que nos tentam confortam, dando-nos a sua opinião sobre o que poderá ter causado aquele cancro; na altura, disseram-me que podia ter sido das vacinas, da comida, do ambiente…
Tudo o que posso dizer é que, se alguém tiver um amigo ou amiga que tenha um filho com cancro, dê-lhe apoio e carinho, não explicações. Nós, mães e pais, precisamos de amor e de um ombro para chorar. Precisamos de alguém para desabafar, alguém que nos faça sentir seguros, e não que nos assuste ainda mais.
2 – As crianças com cancro precisam de transfusões de sangue durante todo o tratamento
A primeira vez que nos disseram que Evie precisava de uma transfusão de sangue foi logo depois de descobrirmos que ela tinha um tumor. Era tudo novo e assustador. Lembro-me de ter olhado para a bolsa de sangue que a minha filha ia receber e de ver a data: 31 de julho. O dia de aniversário da Evie. Fiquei emocionada, e pensei no quão bonito era que, sem saber, alguém havia dado a Evie um presente no seu aniversário, dando-lhe sangue que a ajudaria a sobreviver.
Por isso, dê sangue. É uma coisa tao simples, que não doi e que pode fazer uma enorme diferença para uma criança que está em tratamento.
3 – Ver uma criança a lutar contra o cancro muda-nos para sempre
Quando entramos numa ala de oncologia pediátrica, a nossa vida muda. As crianças parecem diferentes. As crianças estão quase todas carequinhas, o seu tom de pele fica cinzento, algumas estão muito magras ou estão em cadeiras de rodas e outras têm tubos de alimentação colados ao rosto.
No entanto, elas continuam a ser crianças. Crianças que estão a enfrentar a maior provação das suas vidas. São heróis resilientes que, apesar de tudo aquilo por que estão a passar, continuam a sorrir. Fazem birras como todas as crianças, choram como todas as crianças, querem amor como todas as crianças. Mas, curiosamente, são elas que, muitas vezes, nos dão força. A Evie nunca pôde perceber o quão bem os abraços dela me faziam.
Como pais, achamos que somos nós que ensinamos aos nossos filhos o sentido da vida. Eu descobri que são os nossos filhos que nos ensinam muito. Eu aprendi muito com a Evie ao vê-la lutar; ela, e todas as crianças como ela, mudaram a minha maneira de ver e sentir as coisas que a vida nos traz.
4 – Os irmãos de crianças com cancro sofrem muito mais do nós imaginamos
De muitas maneiras, sinto que o cancro da Evie afetou muito mais a Alicia do que a Evie; a Evie era muito jovem quando tudo aconteceu, mas a Alicia já tinha idade para entender tudo o que se estava a passar.
Para muitos irmãos, ter que assistir a alguém que amam passar por um tratamento como aquele é tão doloroso, confuso e assustador. Os nossos outros filhos também precisam da força da mãe e do pai, mesmo que a estejamos focados no nosso filho doente. Não podemos descurar dos nossos outros filhos, eles sofrem mais do que nós podemos imaginar.
A Alicia viu de perto todo o processo da Evie, ela sabia quando, como e o que significavam todos os tratamentos que a irmã tinha de fazer. Sabia o que era uma recidiva, uma ressonância magnética, um cateter…
Os irmãos de crianças com cancro são os heróis desconhecidos.
5 – Conhecer pais com a mesma história que nós é muito importante
Estar no hospital pode ser muito solitário. Às vezes, tínhamos que passar semanas no hospital e, sinceramente, não sei como teria sobrevivido àquelas semanas sem as amizades que fiz no hospital onde a Evie foi tratada. Aqueles pais tornaram-se meus amigos, o meu suporte, a minha segunda família.
Quando passamos os dias sentados, dentro das quatro paredes de uma sala, à espera que terminem os tratamentos, é bom termos alguém do nosso lado, que nos compreende. Eu encontrei isso nos outros pais. Senti que me conseguia expressar melhor com eles, que eles me entendiam. Aquelas pessoas sabiam o que era morar num hospital, ver os filhos a sofrer, a gritar, a chorar. Sabiam o que era sentir, todos os dias, o medo de perdermos o nosso bebé.
O cancro infantil é algo aterrador, é um mundo de receios e duvidas, e é por isso que estou tão agradecida por todos os amigos que fiz dentro do hospital. Eles foram o meu raio de luz quando, no horizonte, só havia escuridão.
6 – Depois do cancro infantil, a nossa vida nunca mais será a mesma
Não há como voltar à “vida normal” que vivíamos antes de ouvir “o seu filho tem cancro”. a nossa vida muda0 para sempre. Nós mudamos para sempre.
Mesmo quando o tratamento termina, continuamos a sentir a ameaça do cancro, o medo de que ele volte. Muitas crianças sofrem efeitos secundários, e temos de aprender a lidar com isso. Começamos a ver as coisas de outra maneira, a dar importância ao que realmente nos importa.
Eu mudei muito. Situações que antes me afligiam ou me incomodavam passaram a ser insignificantes. Eu tornei-me realmente consciente de que o que importo é “viver o agora”.
7 – As crianças morrem de cancro
Esta é a dura realidade. Infelizmente, eu sei disso muito bem e também sei que a nossa família não foi a única que perdeu um filho. Enquanto a Evie estava em tratamento, vimos muitas crianças morrerem. É uma das coisas mais horríveis que nos pode acontecer.
O cancro roubou a nossa bebé.
Não porque ela não lutou o suficiente, ou porque não fizemos tudo o que pudemos. Ele simplesmente roubou-a de nós
8 – Ajudar a investigação é vital
Antes de Evie ser diagnosticada, eu nunca tinha sequer ajudado uma instituição de apoio ao cancro infantil; mas, durante aqueles 4 anos, percebi que o quão importante é ajudar essas instituições. O governo não ajuda e nós, pais, precisamos que sejam feitas pesquisas qe ajudem a salvar os nossos filhos.
Só assim poderemos erradicar esta doença que tanto sofrimento causa. arrecadado fundos.
Ajudar instituições ajudou-me muito. Saber que estava a fazer algo para um bem maior, saber que podia ajudar crianças e famílias com cancro era reconfortante.
Por isso, ajude estas crianças a ter uma hipótese contra o cancro. Por elas, vale a pena lutar.
Texto redigido por Sarah Weir
Fonte: Now To Love