Um dos tipos de cancro cerebral pediátrico, conhecido como glioma pontino intrínseco difuso (DIPG), é quase uniformemente fatal.
Em parte, isso é devido à forma e ao local onde ele se desenvolve, formando-se como uma rede difusa de células numa parte do tronco cerebral chamada ponte, que controla funções essenciais como a respiração e a deglutição.
Outro fator que torna o glioma pontino intrínseco difuso especialmente perigoso é a falta de tratamentos – atualmente, não existem terapias ou imunoterapias direcionadas comprovadamente eficazes para tratar a doença, e os variados ensaios clínicos que procuraram melhores terapias para este tipo de cancro não tiveram êxito.
De fato, a quimioterapia tem sido tão malsucedida contra este tipo de cancro, que os cientistas começaram a questionar-se se os medicamentos quimioterápicos seriam realmente capazes de atingir o glioma pontino intrínseco difuso.
O que acontece, na maioria dos casos, é que as terapias não são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica que encapsula o cérebro e o sistema nervoso central, sendo a ponte especialmente difícil de alcançar.
Mas agora, um estudo realizado pela Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, em conjunto com o Children’s Hospital Colorado tentou resolver esta questão.
Publicado na revista Neuro-Oncology Advances, o estudo teve “resultados surpreendentes e encorajadores”, de acordo com os cientistas.
“Chegámos à conclusão de que os medicamentos quimioterápicos têm sim a capacidade de alcançar o glioma pontino intrínseco difuso. O problema é que ainda não encontrámos tipo de quimioterapia certa!”, disse Adam Green, um dos principais autores do estudo.
No ensaio clínico, os investigadores administraram uma dose do medicamento quimioterápico gemcitabina em pacientes recém-diagnosticados com glioma pontino intrínseco difuso; seguidamente, foi medido nível dessa quimioterapia que estava presente no tecido tumoral dos pacientes, através de uma biópsia realizada imediatamente depois.
Os cientistas também realizaram estudos paralelos em cobaias com a forma humana da doença; os resultados em humanos e em ratos foram semelhantes, independentemente do local exato onde o tumor se desenvolveu.
“Quando demos início a este ensaio, sabíamos que a dose única de quimioterapia não iria ser eficaz contra o tumor. O que estas famílias fizeram foi dar um salto de fé connosco. Elas confiaram em nós, confiaram na segurança deste ensaio. E, acima de tudo, fizeram-no pelos seus filhos e por futuros pacientes”.
É importante ressaltar o Children’s Hospital Colorado é um centro líder no tratamento de cancro cerebral pediátrico, tendo sido pioneiro na implementação de biópsias como parte do tratamento padrão do glioma pontino intrínseco difuso.
Segundo os cientistas, o estado do tratamento do glioma pontino intrínseco difuso é semelhante ao estado das terapias contra a leucemia em 1950; hoje em dia, com os novos tratamentos, as taxas de sobrevivência para crianças com leucemia passaram de quase inexistentes para cerca de 90%.
A descoberta atual, embora preliminar, também tem o potencial de influenciar o foco e o design dos ensaios clínicos de glioma pontino intrínseco difuso.
Por exemplo, outra estratégia de tratamento tem sido explorar a administração direta de medicamentos quimioterápicos no tecido tumoral de maneiras que ultrapassem a barreira hematoencefálica.
O presente estudo implica que, além das estratégias inovadoras de administração de medicamentos, se possa continuar a priorizar a procura por novos e melhores medicamentos quimioterápicos.
“Com este estudo, mostrámos que a quimioterapia sistémica pode ser parte da resposta no tratamento desses tumores. Só precisamos aplicar tudo o que aprendemos sobre a biologia dos tumores para encontrar os medicamentos certos. Isso dá-nos muita esperança de que, se encontrarmos os medicamentos certos, seremos capazes de tratar este tumor de maneira eficaz “.
Fonte: Eurekalert