Uma pesquisa conduzida pelo Hospital Pediátrico St. Jude, nos Estados Unidos, realizou a análise mais abrangente feita até agora às alterações genómicas que levam ao desenvolvimento de cancro em crianças.
Os resultados reafirmam a necessidade da existência de terapias de precisão pediátricas específicas.
Estudos anteriores determinaram que crianças e adultos com cancro têm, de forma geral, diferentes genes mutantes a direcionar a sua doença, o que sugere que provavelmente estes pacientes beneficiariam de diferentes terapias.
A pesquisa, juntamente com um estudo conduzido por cientistas do Hopp Children's Cancer Center e do Centro Alemão de Pesquisa do Cancro, ambos na Alemanha, foi publicada na Nature.
Os resultados ajudarão a orientar pesquisas clínicas e laboratoriais que pretendam melhorar a compreensão, o diagnóstico e o tratamento de pacientes pediátricos com cancro em todo o mundo.
Em vez de se concentrar num único tipo de tumor, o estudo avaliou seis subtipos de cancro através de três diferentes abordagens de sequenciamento de próxima geração.
Os investigadores compararam mutações genéticas somáticas, alterações genómicas encontradas em células cancerígenas, mas não em células normais, e o seu impacto nos principais processos biológicos em tecidos tumorais e normais de 1 699 pacientes pediátricos com cancro.
Esta abordagem revelou que apenas 45 por cento dos genes mutantes que “conduzem” o cancro em crianças são os mesmos que os genes que “estimulam” o cancro em adultos, o que mostra, pela primeira vez, “que os cancros pediátricos e adultos surgem, frequentemente, de diferentes genes com mutações diferentes”, afirmaram os investigadores.
“Os resultados deixam a mensagem de que pacientes com cancro pediátrico não são “adultos pequenos” e que a sua doença não deve ser tratada como se fosse o caso.
Melhores tratamentos e testes diagnósticos mais sensíveis exigem o entendimento da biologia do cancro, algo que estes resultados fornecem”, continuaram.
Os avanços no tratamento elevaram as taxas de cura do cancro pediátrico para mais de 80 por cento, mas a doença continua a ser a principal causa de morte em crianças entre os 1 e os 19 anos.
A análise incluiu pacientes inscritos nos ensaios clínicos do Children's Oncology Group, e apresentavam sinais de leucemia linfoblástica aguda, leucemia mieloide aguda, osteossarcoma do cancro dos ossos; tumor de Wilms e neuroblastoma. Ao contrário de uma análise anterior, que se focou na codificação de mutações de sequências, a equipa de investigadores do St. Jude analisou variações em cópias de ADN e rearranjos cromossômicos.
Os dados foram recolhidos do sequenciamento completo do genoma do ADN completo do tumor do paciente e tecido normal. A análise também incluiu a primeira avaliação abrangente da expressão quantitativa e qualitativa de alelos mutantes em comparação com alelos de tipo selvagem em múltiplos subtipos de cancro.
Para o estudo, os investigadores processaram os dados de sequenciamento usando uma estrutura analítica uniforme. “Examinar os tipos de tumores ajuda a identificar mutações realmente importantes no cancro pediátrico e a entender os caminhos envolvidos”, disseram os especialistas.
Por exemplo, a análise identificou padrões inesperados de mutações, ou assinaturas mutacionais, em oito dos 689 pacientes com leucemia linfoblástica aguda. O ADN dos pacientes tinha uma assinatura mutacional consistente com a exposição à luz ultravioleta, que foi previamente observada exclusivamente em cancros da pele. Os pacientes também compartilhavam outra anormalidade genómica, muitos ou poucos cromossomas.
“Esta descoberta sugere que a exposição à luz ultravioleta pode ser um fator ambiental não reconhecido anteriormente que aumenta o risco de desenvolver leucemia em algumas crianças”, concluíram os investigadores.
Além disso, a análise revelou que, em vez de apontar mutações no ADN, a maioria das mutações que conduzem o cancro pediátrico (62 por cento) foram alterações no número de cópias e variações estruturais. As alterações no número de cópias deixam os pacientes com muitas ou poucas cópias de genes específicos. Variações estruturais envolvem rearranjos génicos.
“Isso mostra que, à medida que a genómica passa para a clínica, o teste de diagnóstico para pacientes pediátricos deve incluir mudanças no número de cópias e variações estruturais”, lê-se no estudo.
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