Alguns cancros podem ter origem anos antes de serem diagnosticados

De acordo com uma nova investigação, alguns cancros podem ter origem numa mutação prejudicial várias décadas antes de um diagnóstico ser feito, com as células cancerígenas a multiplicarem-se ao longo dos anos sem que ninguém tenha conhecimento.

Cientistas da Universidade de Harvard, do Boston Children’s Hospital, do Dana-Farber Cancer Institute, do Massachusetts General Hospital, todos nos Estados Unidos, e do European Bioinformatics Institute estudaram o desenvolvimento de neoplasias mieloproliferativas, ou MPNs, um tipo de cancro do sangue, ou leucemia, causado por uma única alteração num nucleotídeo de ADN, um dos blocos de construção.

O estudo, publicado na revista Cell Stem Cell, sugere que o desenvolvimento do cancro é mais gradual do que os cientistas esperavam.

Utilizando tecnologias de ponta, os cientistas calcularam que a mutação MPN ocorreu pela primeira vez por volta dos 9 anos de idade num paciente diagnosticado com cancro aos 34 anos e aos 19 num paciente diagnosticado aos 63 anos.

Assim, o que os médicos acreditavam ser uma leucemia adulta era, na verdade, cancro infantil.

Sahand Hormoz, um dos autores principais, explicou que as técnicas tradicionais de diagnóstico não detetam estas mutações de forma tao precoce.

“Durante os primeiros 10 a 15 anos, o número de células cancerígenas é muito pequeno, na ordem de 10 a 100 células em 100 mil células estaminais. Nenhum teste de diagnóstico de rotina deteta isto”.

Os médicos normalmente não administram a maioria dos testes de diagnóstico de cancro até que os sintomas, como fadiga ou dor, apareçam. Mamografias ou colonoscopias em exames de rotina podem detetar o cancro antes que o indivíduo se comece a sentir doente, mas, a essa altura, o cancro pode já estar em processo de desenvolvimento há vários anos, de acordo com esta investigação.

“Durante um determinado período, a comunidade científica entendeu qualitativamente que certos tipos de cancro podiam formar-se no corpo humano muito antes de o cancro se manifestar como uma doença tangível, potencialmente com anos de antecedência. Mas, até agora, não tínhamos tido acesso à tecnologia e aos métodos que poderiam colocar um número real nesse período”, disse Maximilian Nguyen, outro dos membros da equipa de pesquisa.

Usando uma nova técnica, a equipa de investigadores rastreou a história da linhagem de células cancerígenas, assim como comparou espécies relacionadas, como humanos e chimpanzés, para encontrar um ancestral comum.

Juntamente com informações sobre a taxa de replicação do cancro, os cientistas determinaram a idade em que a mutação se manifestou.

Traçar a história das células exigiu amplificar ADN suficiente numa cultura fora do corpo para ser capaz de a estudar.

A equipa usou um procedimento lento, favorecido pela sua precisão, para promover uma única célula cancerígena a se dividir exponencialmente, produzindo muitas células geneticamente idênticas.

Foram precisos quase 3 meses para que os cientistas amplificassem ADN suficiente para estudar. O sequenciamento em massa foi então realizado para ler e analisar o ADN.

“Isto são técnicas caríssimas”, afirmaram os cientistas.

Ann Mullally, outro membro da equipa de pesquisa, enfatizou a importância de compreender melhor os tipos de cancro antes de as pessoas se concentrarem em técnicas de intervenção e diagnóstico.

“Existem pessoas que desenvolverão esta mutação, mas que não irão desenvolver a doença. Atualmente não temos uma boa maneira de entender, ou ainda não sabemos, quais são os preditores. Portanto, antes de começarmos a fazer testes generalizados em pessoas, precisamos de saber melhor o que fazer com todas estas informações”.

Os autores do estudo também abordaram o impacto que o seu trabalho pode ter na pesquisa do cancro e nos cuidados com a saúde.

“Agora temos os meios para acompanhar a evolução do cancro em pacientes ao nível da precisão das células individuais, o que acredito que levará à criação de novos processos e tratamentos. Clinicamente falando, acho que esta investigação terá um impacto potencial sobre os médicos ao delinear mais claramente a janela de tempo que eles têm para fornecer deteção precoce, prevenção e intervenção para os seus pacientes”.

“Esta investigação abre as portas a um novo sonho. Ela levanta a possibilidade de nós, médicos, sermos capazes de intervir e de tratar estes pacientes antes mesmo de o cancro se ter manifestado”.

Fonte: The Crimson

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