Todos os anos, cerca de 400 000 crianças em todo o mundo desenvolvem cancro – das quais apenas metade é diagnosticada. A maioria delas vive em países de baixo e médio rendimento e, na melhor das hipóteses, 30% serão curadas. O sofrimento desnecessário que estas crianças suportam é agravado pela desnutrição, diagnósticos errados, tratamentos inacessíveis e falta de profissionais de saúde especializados.
“A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) está a trabalhar para combater esta realidade e prestar os cuidados que estas crianças merecem”, afirmou Najat Mokhtar, Vice-Diretora Geral da AIEA, no âmbito de um evento dedicado ao tema “Luta contra o Cancro Infantil: Encontrar uma Luz no Fim do Túnel”, durante a 67.ª Conferência Geral da AIEA.
Neste evento, a história de Sidney Chahonyo foi destacada como um exemplo de superação. Aos 19 anos, quando estava prestes a entrar na universidade, Chahonyo começou a sentir dores de cabeça e sangramento nasal. O aumento da frequência e intensidade destes sintomas – juntamente com o aparecimento de perda auditiva – levou-o a procurar atendimento médico. Depois de seis meses frustrantes de visitas a inúmeras clínicas e hospitais, e depois de ser diagnosticado de forma errada repetidamente, ele finalmente recebeu o diagnóstico de carcinoma nasofaríngeo, um cancro que afeta os tecidos que conectam a parte posterior do nariz à parte posterior da boca. Com esse diagnóstico, ele foi imediatamente submetido a tratamento.
Hoje, o sobrevivente de cancro infantil, com 37 anos, defende a mudança esta área enquanto Diretor Executivo da Hope for Cancer Kids, uma organização sem fins lucrativos dedicada a fornecer apoio, recursos e esperança às famílias afetadas pelo cancro infantil no Quénia. “O que eu quero é que todas as crianças do mundo tenham a mesma oportunidade que eu tive de vencer o cancro”, sublinhou Chahonyo.
Nos países de rendimento elevado, quase todos os pacientes têm acesso à radioterapia. Nos países de rendimento médio, menos de 60 por cento o fazem. Nos países de baixo rendimento, apenas uma em cada dez pessoas tem acesso a este tratamento que salva vidas. A principal iniciativa da AIEA contra o cancro, a Rays of Hope: Cancer Care for All, pretende melhorar essa realidade, apoiando o estabelecimento e a expansão de serviços de radioterapia em todo o mundo.
Radiomedicina e nutrição são fundamentais no tratamento do cancro infantil
O evento destacou o papel das técnicas de radiomedicina e nutrição no tratamento do cancro infantil. Centrando-se no meduloblastoma – o tumor cerebral maligno mais comum em crianças – como estudo de caso, os especialistas da AIEA descreveram os cuidados que os pacientes recebem. Sublinharam que os recentes avanços na imagiologia, no tratamento, na garantia de qualidade e no apoio nutricional não só melhoraram a sobrevivência, mas também reduziram os efeitos secundários que as crianças sofrem.
A AIEA e os seus colaboradores têm feito progressos no sentido de garantir um tratamento equitativo do cancro para todos. Representantes de três desses colaboradores – a Iniciativa Global da OMS para o Cancro Infantil, a Sociedade de Radioterapia Pediátrica e o Grupo de Trabalho EuroSafe Imaging sobre Imagiologia Pediátrica – sublinharam a importância de garantir que os cuidados sejam contínuos e de elevada qualidade.
No entanto, apesar do progresso global, há uma série de desafios que ainda precisam de ser enfrentados para colmatar o fosso entre os países em termos de financiamento, equipamento, infraestruturas, educação, formação e recursos humanos, para citar apenas alguns.
Por maiores e desafiantes que estes desafios possam parecer, existe um caminho claro a seguir e medidas concretas que podem ser tomadas, destaca a AIEA.
“Com colaboração contínua, conhecimentos científicos, vontade e compromisso globais, podemos enfrentar estes desafios e satisfazer as necessidades das crianças com cancro em todo o mundo”, sublinhou May Abdel-Wahab, Diretora da Divisão de Saúde Humana da AIEA. “Nunca devemos esquecer que o acesso aos cuidados é um imperativo moral e um direito humano”, concluiu.
Fonte: AIEA