A sobrevivente que espera pelo dia em que o cancro não afete mais crianças

Do nada, as hemorragias começaram e não pararam durante 4 horas. Rhea Watson, na altura com 18 anos, tinha propensão para hemorragias nasais, mas nunca lhe tinha acontecido algo assim.

Quando se apercebeu que a hemorragia teimava em não passar, Rhea deslocou-se até ao Community Hospital South, nos Estados Unidos, onde, depois de um sem número de testes e horas de espera, os médicos disseram a palavra que ninguém quer ouvir: cancro.

“É algo transformador. É uma palavra que muda uma vida”, contou Rhea à IndyStar.

“Sentimo-nos como se estivéssemos a ser atirados para um mundo do qual não queremos fazer parte, mas ao qual não temos alternativa”.

Hoje, com 28 anos, Rhea está livre de cancro e trabalha como enfermeira no Riley Hospital for Children.

Como forma de celebrar o 10º aniversário do seu diagnóstico, a jovem criou uma angariação de fundos para a Sociedade de Leucemia e Linfoma.

“Desde que fui diagnosticada que, de uma maneira ou de outra, luto pelo dia em que o cancro não afete, nem mate, mais crianças”.

2 anos de luta intensa

Rhea foi diagnosticada a uma quarta feira e começou a fazer tratamentos na sexta a seguir.

Quando olha para trás, a jovem vê que havia sinais de que algo estava errado: as hemorragias que teimavam em não passar, o frio que a atormentava, a gripe que demorou mais do que o habitual a desaparecer ou o cansaço que, de um momento para o outro, começou a sentir.

“No dia do Baile de Finalista, tive que ir para casa ao fim de uma dança. Coitado do meu par, ficou pendurado, porque eu estava muito cansada”, recorda.

Rhea e a sua irmã gémea. – Fonte: DR

A jovem terminou os estudos quando já estava internada; uma semana depois, começou a perder o cabelo. Inicialmente tratada no IU Health Simon Cancer Center, Rhea foi posteriormente encaminhada para o Riley Hospital for Children, onde iniciou um tratamento que duraria 2 anos.

Terry Vik, o oncologista que acompanhou Rhea, explica que os adolescentes diagnosticados com o mesmo tipo de leucemia de Rhea, são, geralmente, encaminhados para as alas pediátricas.

Rhea entrou em remissão após o primeiro mês de tratamento. No entanto, foi necessário que ela terminasse os dois anos completos de tratamento para garantir o melhor resultado.

Ao mesmo tempo que o seu tratamento continuava, Rhea continuou a aplicar-se nos estudos, desta vez como estudante universitária de gestão; mas, em 2011, prestes a completar os tratamentos, a jovem percebeu que o seu destino era outro.

“Depois de 2 anos a frequentar o Riley Hospital for Children, senti que as enfermeiras que me acompanhavam eram já parte da minha família. E, nesse momento, percebi que aquela era a minha missão: ser enfermeira e tornar-me parte integrante do dia a dia de pacientes que precisassem de mim”.

De olhos postos no futuro

Neste momento, Rhea trabalha como coordenadora e enfermeira no Riley Hospital for Children, onde, diariamente, trabalha com jovens pacientes que estão a experienciar aquilo que ela já viveu.

Ao seu lado está Terry Vik, o oncologista que salvou Rhea e que hoje olha para a sua ex-paciente com muito orgulho.

“A jornada da Rhea nesta última década tem sido incrível. Ela conseguiu superar aquele terrível cancro, e hoje trata os pacientes como se fossem os seus próprios filhos”, conta.

Terry afirma que o trabalho desenvolvido por Rhea enquanto enfermeira é “inestimável”.

“Ouvir um médico, como eu, dizer que vai tudo correr bem, é reconfortante. Mas ouvir isso de alguém que realmente venceu um cancro, é algo precioso. É fundamental que haja alguém, que faça parte da equipa médica, que tenha uma perspetiva de sobrevivente”.

Esse foi o caso de Cameron Kirk, um rapaz de 11 anos, que há 1 ano luta contra o mesmo tipo de leucemia diagnosticada a Rhea.

Cameron, juntamente com a sua mãe e a enfermeira Rhea. – Fonte: DR

“Adoro a enfermeira Rhea. Ela faz-me sentir confortável e confiante. Ela já passou por tudo isto que eu estou a passar e sobreviveu. E eu também vou sobreviver”, afirma o jovem.

“No fundo”, diz Rhea, “só quero mostrar a estas crianças que há luz ao fundo do túnel”.

“Eles são confrontados com tantas preocupações durante o tratamento… eu só quero, e espero, poder ajudá-los com essas preocupações, acalmá-los e mostrar-lhes que a vida deles não será assim para sempre”.

Fonte: IndyStar

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