“A população pediátrica com este tipo de tumores tem sido um pouco esquecida”, defende João Pedro Lobo, vencedor do Prémio Rui Osório de Castro/Millennium bcp

Apesar de jovem, João Pedro Lobo conta já no seu currículo com várias distinções; mais recentemente, o investigador do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto) viu o seu projeto “Melhorar a abordagem clínica de doentes pediátricos e adultos-jovens com tumores de células germinativas do testículo: em busca de novos biomarcadores e tratamentos com base epigenética” ser galardoado com o Prémio Rui Osório de Castro/Millennium bcp. 

Considerada a neoplasia mais comum a nível mundial “em indivíduos dos 15 aos 39 anos”, os tumores de células germinativas do testículo do tipo pediátrico também são “bastante frequentes” em crianças ainda em idade muito jovem.

“A maioria dos estudos têm-se focado mais nos tumores do adulto jovem, do adolescente, e a população pediátrica e de crianças muito jovens com este tipo de tumores tem sido um pouco mais esquecida”, explica João Pedro Lobo, em entrevista ao projeto “Tenho Cancro. E depois?”. 

“É uma das coisas que pretendemos com este trabalho, focarmo-nos nesta população de crianças mais jovens, com 2, 3, 4 anos de idade”, diz.

“O nosso objetivo é, através do estudo de biomarcadores do tipo epigenético, que são mecanismos que regulam a ativação dos nossos genes e, neste caso, dos genes do tumor, melhorar o seguimento que damos a estes doentes e a abordagem clínica, e ajudar os nossos clínicos a seguir melhor estes doentes. Paralelamente, procuramos também estudar a dinâmica epigenética destes tumores e procurar novas armas terapêuticas para oferecer a estes doentes.”

Considerando que o seu trabalho se encontra “numa boa fase”, João Pedro Lobo explica que a sua equipa está “a descobrir novos biomarcadores em biópsias líquidas, de maneira não invasiva, que possam servir para monitorizar estes doentes”.

“Testámos recentemente algumas classes de fármacos que foram muito promissoras. Seguidamente, pretendemos propor ensaios clínicos de fase precoce para tentarmos melhorar o tratamento destes doentes.”

Segundo o investigador, “a investigação e os ensaios clínicos nesta área são fundamentais” sendo que o caminho para novas descobertas deverá passar pela epigenética.

“Ao contrário dos tumores de adultos mais velho, como o cancro do pulmão, da próstata, da mama, que muitas vezes se devem ao efeito nocivo de um determinado agente, estes tipos de tumores têm alterações genéticas muito exuberantes, têm uma carga mutacional grande”, mas isso não acontece em casos de cancro pediátrico, que funciona “como se fosse um cancro muito jovem, que geneticamente não tem muitas mutações, pelo contrário”, tornando-o “estável”, do ponto de vista genético.

Quando questionado sobre se “curar o doente com cancro e não só o cancro do doente é importante?”, João Pedro Lobo é perentório.

“Temos de pensar em curar a doença em todas as faixas etárias, mas em particular nesta faixa etária tão jovem, de crianças e adolescentes que têm a vida toda pela frente. Temos que pensar se estamos a tratar de modo adequado e não até a tratar um pouco ‘a mais’, oferecendo alguma toxicidade que depois pode vir a ter impacto na qualidade de vida destes futuros sobreviventes de cancro, que serão os futuros adultos da sociedade”.

Sobre o futuro da investigação em oncologia pediátrica em Portugal, João Pedro Lobo afirma que existem condições para melhorar, apelidando iniciativas como o Prémio Rui Osório de Castro/Millennium bcp de “absolutamente fundamentais e gratificantes”.

“Estamos mesmo com a oportunidade nas mãos de nos reorganizarmos, de fomentarmos e de facilitarmos a investigação voltada para a saúde no nosso país”, afirma o jovem.

O Prémio Rui Osório de Castro/Millennium bcp será entregue no próximo dia 27 de fevereiro, durante o 7º Seminário de Oncologia Pediátrica.

Fonte: SIC Notícias

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