A perspetiva de uma mãe sobre o cancro infantil

Em 2012, quando recebemos o diagnóstico de neuroblastoma em estágio IV, senti que o meu mundo, como eu o conhecia, tinha terminado.

Com o diagnóstico, surgiram estatísticas assustadoras de sobrevivência, nomes de tratamentos sobre o quais nunca tínhamos ouvido falar e uma certeza: a de que faríamos tudo para salvar a minha filha.

A Lily-Mae tinha acabado de completar 4 anos quando foi diagnosticada.

Na véspera do seu 12º aniversário, e no meio de toda esta incerteza pela qual o mundo está a passar com a Covid-19, decidi tirar um momento para refletir sobre as lições que aprendi durante esta jornada incrivelmente difícil.

Hoje é o último dia em que a minha filha terá 11 anos; amanhã, o meu pequeno milagre fará 12 anos.

Quando acordei, dirigi-me até à cama da Lily-Mae e fiquei ali, ao lado dela, a vê-la a dormir; tão calma, tão bonita e muito, muito sortuda.

Como é que os anos passaram tão rápido?

Cada ano, cada dia, cada momento, cada segundo, cada respiração da minha filha é um presente para mim. Um presente que nunca tomei como garantido, porque sabia que a qualquer momento a vida me podia tirá-la. Este é um sentimento que acredito que todas as mães e pais de crianças com cancro conhecem.

O mundo inteiro está a viver momentos estranhos e assustadores e, infelizmente, acredito que estes momentos ainda perdurarão no tempo. Ao refletir sobre estes 8 anos, apercebi-me que as nossas vidas são parecidas com pequenos globos de neve, daqueles que pomos nas lareiras no Natal, mas, ao invés de neve, estão cheios de pessoas que amamos e que são importantes para nós.

O meu mundo desabou em junho de 2012 com o diagnóstico da Lily-Mae.

A minha vida ficou interrompida.

Com aquele diagnóstico vieram muitas outras coisas: veio o medo, a confusão, a tristeza, a perda, o desemprego, a incerteza e o isolamento. Um isolamento real. Os pais de crianças com cancro costumam passar semanas e meses isolados, apenas dedicados a cuidar dos nossos e a garantir que nada mais os possa magoar.

Depois de partido, o nosso globo de neve demorou muito tempo até voltar a ser colado; e mesmo agora, refeito, não é igual ao que outrora foi.

E embora todos os globos de neve tenham alguma fissura, a verdade é que nem sempre essas fissuras são marcas negativas do passado.

Sim, o meu globo de neve partiu-se quando a minha filha foi diagnosticada com cancro. Mas voltou a colar-se graças à nossa resiliência, resistência, força, compreensão, apreço, paciência e uma capacidade recém-adquirida de entender as pesquisas médicas.

Mas, acima de tudo, o meu globo de neve colou-se graças ao amor.

Neste momento, os globos de neve de muitas pessoas espalhadas pelo mundo estão a ficar com algumas rachas. O mundo está virado de cabeça para baixo, e os nossos globos, seja porque motivo for, também. Os mesmos sentimentos de medo, confusão, tristeza, perda, desemprego, incerteza e solidão que eu senti, começam a instalar-se noutras casas. É fácil sentirmo-nos como se estivéssemos sozinhos, nossos próprios mundos…

Mas, à medida que nos adaptamos a estes tempos muito estranhos, temos que nos lembrar que os nossos globos de neve, delicados e facilmente abaláveis, são o que mais importa.

Temos de confiar e de acreditar que o nosso globo de neve vai aguentar toda a turbulência.

Texto redigido por Judith Sibley, mãe de uma sobrevivente de cancro infantil

Fonte: Galway Daily

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