Setembro é o meu mês preferido por muitas razões: os aniversários dos meus familiares, a chegada do outono e das abóboras, o regresso das botas. Mas também por ser o mês internacional da sensibilização para o cancro infantil.
São 30 dias de laços dourados, 30 dias de captação de recursos para a pesquisa sobre o cancro infantil, 30 dias em que as publicações no Facebook são alusivas à doença, e 30 dias que servem para comemorar os guerreiros carequinhas que andam pelos corredores dos hospitais.
Como enfermeira de oncologia pediátrica, o Setembro Dourado é um lembrete gritante daquilo que ainda precisamos de fazer pelas crianças com cancro, uma doença que não é tão rara quanto fazem querer parecer.
Depois dos acidentes e traumas, o cancro infantil é a principal causa de morte em crianças entre os 1 e os 14 anos. Uma em cada 285 crianças será diagnosticada com cancro infantil.
Cerca de 5% dos cancros pediátricos ocorrem em pacientes com mutações genéticas ou síndromes de predisposição à doença, mas a grande maioria dos casos não pode ser atribuída a uma causa única.
O cancro pode afetar uma criança de qualquer idade, raça, sexo ou status socioeconómico.
O cancro infantil não conhece fronteiras e não tem regras.
Mas a estatística mais surpreendente, para mim, é que todos os dias 43 crianças serão diagnosticadas com cancro.
Os sinais e sintomas desta doença são tão variados e diversos quanto o número de tipos de cancro infantil que existem. A leucemia é o tipo mais comum, correspondendo a aproximadamente 29% de todos os diagnósticos feitos por ano, seguido pelos tumores cerebrais e do sistema nervoso central, e pelos sarcomas dos tecidos moles e linfomas.
Tradicionalmente, o tratamento é feito através de uma combinação de quimioterapia, cirurgia e radiação. Recentemente, os tratamentos como o uso de células estaminais geneticamente modificadas têm ganho uma visibilidade nunca antes vista nos meios de comunicação social. Estas terapias, que visam mutações genéticas específicas, são consideradas os tratamentos do futuro e, até agora, parecem bastante promissoras.
No entanto, mesmo à luz destas estatísticas impressionantes sobre o cancro infantil, esta é uma doença em que a pesquisa é subfinanciada. Menos de 4% do orçamento total do Instituto Nacional do Cancro, nos Estados Unidos, vai para a pesquisa de curas para o cancro pediátrico.
Tenho a certeza que todos concordamos que a vida dos nossos filhos vale mais do que apenas 4%.
Nos últimos 30 anos, foram desenvolvidos apenas três fármacos para tratar o cancro infantil.
Mas não é apenas o tratamento que necessita de investigação; felizmente, e graças a alguns avanços, centenas de milhares de crianças sobrevivem à doença e atingem a idade adulta, mas são obrigados a lidar com as consequências dos tratamentos que tiveram de suportar.
As crianças com cancro são muitas vezes questionadas sobre como podemos cuidar delas.
Como se lida com uma criança que tem pavor a agulhas, mas que tem que ser frequentemente picada? Como se lida com crianças que têm os nervos em franja quando são colocadas em máquinas de ressonância magnética? Ou com o desgosto da recaída? Contudo, para mim, a verdadeira questão é: como podemos não lidar com isto?
Muita gente não vê a coragem e a resiliência de uma criança que recebe quimioterapia, vomita o almoço e vai para a sala de atividades como se nada tivesse acontecido.
Não há lugar mais privilegiado do que aquele ao lado da família. Nós enfermeiros vamos para casa e choramos por aqueles bebés e crianças. Os dias bons superam os maus. Nós conseguimos ver os nossos filhos crescerem diante dos nossos olhos e muitas famílias não têm essa sorte.
Mas não poderíamos fazer este trabalho se não nos fosse prometido que as coisas vão melhorar.
Pesquisas e descobertas, não importa o quão pequenas sejam, ajudam a melhorar os resultados para as crianças com cancro. Todos os enfermeiros e médicos que conheço têm uma paixão enorme pelos carequinhas que vemos a andar pelos corredores dos hospitais.
Rezamos e esperamos pelo dia em que o cancro infantil deixe de ser uma realidade. Mas, até lá, teremos sempre o Setembro Dourado e os seus 30 dias.
30 dias de gritos de guerra contra esta doença. 30 dias para mais pesquisas. E 30 dias para ganharmos um maior conhecimento sobre o cancro infantil.
Texto redigido por Kathryn H., enfermeira de oncologia pediátrica no Hospital de Birmingham