A necessidade de motivar os sobreviventes a serem ativos fisicamente

Apenas uma consulta de fisiologia do exercício é suficiente para melhorar a motivação e os níveis de exercício entre a maioria dos sobreviventes de cancro infantil, de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Sidney, na Austrália.

Quase três quartos das crianças sobreviventes de cancro aumentaram os seus níveis de exercício físico geral após apenas uma consulta com um fisiologista; as sessões também foram motivacionais, com 9 em cada 10 crianças a relatar que queriam aumentar os seus níveis de condicionamento físico.

“Atualmente, menos de um terço dos sobreviventes alcançam as diretrizes recomendadas para a prática de atividade física, mas esta população tem 10 vezes mais probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares do que a população em geral”, disse David Mizrahi, o principal autor do estudo.

Publicado na revista Heart and Mind, o estudo avaliou a resposta de sobreviventes de cancro infantil e seus pais a uma consulta de condicionamento físico por um fisiologista; a pesquisa envolveu 102 sobreviventes, com idades entre os 8 e os 18 anos. 96% dos pais e sobreviventes consideraram a consulta uma parte aceitável do tratamento oncológico e recomendariam estas sessões a outros sobreviventes. Enquanto alguns preferiram ter esta consulta durante o tratamento, 4 em cada 5 prefeririam a consulta após o tratamento ou numa sessão de acompanhamento.

Em cada consulta, o fisiologista avaliou a aptidão cardiorrespiratória e a composição corporal da criança antes de criar um plano de exercícios personalizado. Juntos, medico e paciente estabeleceram metas de condicionamento físico de curto e longo prazo e discutiram maneiras de aumentar, com segurança, as habilidades de exercício da criança de acordo com as suas necessidades e preferências.

“As crianças acharam que este apoio individualizado era muito importante e útil na recuperação”, disse o investigador.

Os sobreviventes já correm um risco maior de desenvolver condições de saúde mais tarde na vida, como doenças cardiovasculares e diabetes; o exercício físico regular pode ajudar a minimizar esse risco, além de fornecer outros benefícios físicos e psicológicos.

“A orientação individualizada e personalizada de um profissional pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver futuros problemas de saúde”.

Exercício e sobrevivência

Apesar dos benefícios bem conhecidos do exercício para a saúde física e psicológica, atualmente, as consultas de condicionamento físico não fazem parte dos cuidados oncológicos padrão na Austrália.

Após o tratamento oncológico, os pacientes geralmente têm uma consulta com o seu médico sobre a sobrevivência; essa conversa pode incluir orientações sobre exercícios, “mas isso depende do médico”, explica David Mizrahi.

“Os médicos oncologistas não estão treinados para falar sobre exercício. Eles até podem mencionar que a prática de exercício físico é importante para o paciente, mas não os aconselham, porque não sabem, sobre quais os exercícios mais adequados”.

Em alguns casos, a falta de informações sobre o exercício após o tratamento do cancro pode levar os pais a não querem que os seus filhos voltem a praticar desporto, daí que David acredite ser crucial manter os pais informados e terem certeza de que o plano de exercícios é adaptado às necessidades dos seus filhos.

“O cancro infantil também é uma doença familiar, porque não afeta apenas a criança – afeta todos os envolvidos. Quando a criança é jovem, precisa de apoio e incentivo dos pais para ser ativa. Pode até ser algo que eles fazem juntos, como ir ao parque. Se pudermos tornar uma criança ativa, é mais provável que ela seja um adolescente ativo e, por sua vez, um adulto ativo”.

O exercício regular não é apenas algo para ajudar as crianças com a sua saúde física, mas também sua saúde mental.

“As crianças não fizeram nada para ter cancro, mas vão ser obrigadas a lidar com as consequências da doença para o resto da vida, como correr o risco de desenvolver outros problemas de saúde mais tarde na vida. O exercício é algo, para alem de poder ser controlado por elas, também as diverte”.

Uma oportunidade de mudança

David. Mizrahi espera que as descobertas ajudem a construir o argumento para o governo financiar programas de fisiologia do exercício nos departamentos de oncologia da Austrália.

“Temos evidências de que pais e filhos querem que isso aconteça – eles gostam deste tipo de serviço – mas não é padrão de atendimento. Quando as crianças são mais ativas após o tratamento, elas podem ter menos probabilidade de desenvolver doenças crónicas mais tarde na vida. Em termos de relação custo-benefício, o governo economizará muito dinheiro a longo prazo, fornecendo aos hospitais fisiologistas”.

O uso de exercícios no tratamento do cancro já é comum em alguns hospitais norte-americanos, e David espera que isso também se torne uma realidade na Austrália.

No próximo ano, o investigador fará parte de um estudo sobre os benefícios do exercício físico em sobreviventes de cancro infantil no St. Jude’s Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos.

“O St. Jude tem todos os tipos de intervenções durante e após o tratamento, incluindo tecnologias como rastreadores de fitness e aplicativos móveis. Quero muito ir lá e aprender coisas novas, para trazer esse conhecimento até à Austrália e, quem sabe, tentar melhorar os resultados de saúde dos sobreviventes de cancro australianos”.

Fonte: Medical News Today

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