A investigação de 10 anos que pode vir a dar uma nova esperança a crianças com cancro

Embora as taxas de sobrevivência de crianças com diagnóstico de cancro estejam a melhorar de forma gradual, a verdade é que nem todas as crianças respondem de forma igual aos atuais tratamentos.

Os vários tipos de cancro diagnosticados em crianças, adolescentes e jovens adultos podem ser resistentes a tratamentos médicos ou sofrer recidivas mesmo quando os tratamentos iniciais pareciam estar a ser bem-sucedidos.

As descobertas de uma investigação realizada durante cerca de 10 anos pelo Translational Genomics Research Institute (TGen) e pelo Beat Childhood Cancer Research Consortium, sugerem que análises genómicas mais profundas e terapias que dependem do sistema imunitário podem oferecer um maior benefício ao paciente.

Publicada na revista Cancer Research, a investigação utilizou a sequenciação genética para analisar 250 tumores sólidos, recolhidos de 202 pacientes jovens que participaram em ensaios clínicos organizados pelo Beat Childhood Cancer Research Consortium em mais de 40 hospitais e universidades dos Estados Unidos.

A investigação concentrou-se em crianças e jovens adultos cujos cancros eram refratários, ou seja, resistentes ao tratamento, ou recidivantes, ou seja, que sofreram uma recidiva após período de melhoras inicial.

Os cientistas descobriram que os tumores refratários ou recidivantes apresentavam um número maior de mutações genéticas do que os tumores no momento do diagnóstico – mais de dois em cada cinco tumores sofreram mutação como resultado da quimioterapia.

“Às vezes, apesar do melhor atendimento médico e do progresso significativo feito nos últimos anos no tratamento do cancro, os tumores sofrem recidiva”, disse Sara Byron, uma da TGen.

Segundo a cientista, a maioria das recidivas “ocorrem porque os tratamentos iniciais não conseguem eliminar algumas das células cancerígenas originais. Precisamos de saber a razão pela qual isso acontece e identificar novas maneiras de tratar esses tumores de forma mais eficaz.”

Para Will Hendricks, outro dos cientistas da TGen, este estudo, que exigiu um grande conhecimento computacional, só foi possível por causa de uma estrutura multi-institucional organizada pela empresa de tecnologia Dell.

“Este estudo forneceu perceções únicas que foram obtidas a partir de análises genómicas profundas de alguns dos tipos de tumor em crianças mais desafiantes do ponto de vista clínico”, disse o cientista.

Em parceria com a Dell, a TGen reduziu o tempo de processamento computacional para essas análises de tumor “de semanas para algumas horas”.

Isso foi fundamental para fornecer resultados oportunos tanto para os pacientes como para os oncologistas.

“O poder de aplicar as tecnologias mais recentes para ajudar a descodificar a complexidade do genoma humano continua a impulsionar melhores tratamentos para os pacientes”, disseram os cientistas.

Dos 202 pacientes cujos cancros foram sequenciados, 20 pacientes tiveram múltiplas recidivas, o que permitiu que os seus genomas tumorais fossem sequenciados em cada uma desses recidivas. Isso, por sua vez, ajudou a revelar a evolução das mudanças genéticas do cancro ao longo do tempo e, em vários casos, revelou novas terapêuticas direcionadas.

Jeffrey Trent, presidente da TGen, revelou que os cientistas observaram que muitos dos cancros infantis exibiam vários mecanismos de evasão imunitária e que, de uma forma geral, mostravam uma total ausência de infiltração por células imunitária.

“Esta descoberta pode, potencialmente, abrir a porta para investigações adicionais que poderão identificar e desenvolver novas opções terapêuticas”.

“Entre o potencial para terapias direcionadas e novas maneiras de alavancar o sistema imunitário contra o cancro, estamos a ser encorajados pelo potencial de usar as informações encontradas no nosso trabalho para ajudar estas crianças, dando-lhes novas respostas e uma esperança renovada para o futuro”.

Esta explicação é corroborada por outra das autoras da investigação, Giselle Saulnier Sholler, que acrescentou que a maioria dos pacientes possuía tumores que expressavam múltiplos neo-antigénios, proteínas na superfície das células tumorais que podem ser usadas como alvos terapêuticos; mais da metade dos pacientes no estudo expressou cinco ou mais destas proteínas.

“Esta investigação destaca a importância da sequenciação genómica para cancros infantis em cada progressão à medida que ganhamos uma maior compreensão sobre como os tumores mudam ao longo do tempo e os mecanismos de resistência, o que pode ter implicações clínicas importantes”, explicou a cientista, que também é Presidente do Beat Childhood Cancer Research Consortium.

Javed Khan observou a natureza complexa do estudo que cobriu 46 tipos de diagnóstico de cancros pediátricos agressivos, informando que este foi o culminar de extensas colaborações de vários anos entre a academia, a indústria e o governo.

“Este estudo representa uma importante análise de tumores de 202 crianças e jovens adultos com cancros de difícil tratamento”, disse Javed Khan, outro dos especialistas envolvidos no estudo.

Os dados desta investigação – que estão disponíveis em clinomics.ccr.cancer.gov/clinomics/public/login para exploração em profundidade por médicos e cientistas – pretendem ser uma valiosa contribuição para a oncologia pediátrica.

Fonte: Eurekalert

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