A importância de debater questões sexuais com jovens sobreviventes de cancro

Sentir-se pouco atraente e insatisfeito com a sua capacidade sexual é algo que faz parte da realidade de muitos adolescentes e jovens sobreviventes de cancro.
Uma pesquisa da Academia Sahlgrenska, na Suécia, decidiu dar voz a um grupo de sobreviventes, que muitas vezes tem uma difícil jornada para voltar a ter uma vida normal.
“As pessoas na área da saúde têm medo de falar sobre isso, mas é necessário sermos ousados e estarmos dispostos a discutir o sexo, sem sermos bruscos ou excessivamente otimistas”, disse a autora principal do estudo, Maria Olsson, enfermeira especialista em reabilitação do cancro. 
Na sua dissertação, a investigadora realizou onze entrevistas com grupos focais e uma pesquisa na Internet que envolveu 540 participantes, todos eles sobreviventes de cancro com idades entre os 15 e os 29 anos. 
As entrevistas mostraram claramente que os adolescentes e jovens adultos gostariam de ter ambientes de tratamento adequados à sua idade.
“Se um paciente tem 17 anos, não é fácil para ele ser cuidado no meio de crianças pequenas. Enquanto isso, um jovem de 25 anos pode-se encontrar internado num quarto de hospital com homens de 60 e 70 anos; isto faz com que os pacientes adolescentes raramente estejam com alguém da sua própria geração”, disse Maria. 
Os resultados do estudo do questionário mostraram que os jovens sobreviventes de cancro se sentem menos atraentes por causa das suas cicatrizes físicas em comparação com o grupo de controlo. A aparência é importante para muitos adolescentes e jovens, e as cicatrizes do tratamento do cancro não devem ser ignoradas, de acordo com o trabalho de investigação. 
Pouco mais de quatro entre dez adolescentes e jovens do sexo masculino, e quase oito entre dez adolescentes e mulheres jovens que sobreviveram a um cancro responderam que se sentiam menos atraentes por causa de suas cicatrizes. Este grupo também expressou ter uma satisfação muito baixa em relação à capacidade sexual em comparação com o grupo de controlo, embora o estudo tenha mostrado que esta resposta foi mais por razões psicológicas do que devido aos efeitos secundários do tratamento.
“Os sobreviventes sentem-se insatisfeitos com sua sexualidade, e não gostam dos seus corpos e das suas cicatrizes, pois estas marcas não os deixam esquecerem-se das dificuldades que tiveram de enfrentar. É por isso que estes jovens precisam de um maior aconselhamento e apoio psicológico no final do tratamento”, pode ler-se no estudo.
No início da investigação, os investigadores tiveram de enfrentar uma resistência à possibilidade de fazerem perguntas sobre temas como a sexualidade e pensamentos suicidas, pois as fontes de financiamento e os comités de ética que tinham aprovado o estudo consideraram os tópicos muito sensíveis.
No entanto, os jovens discordaram. A questão da fertilidade foi a maior preocupação entre quase dez por cento dos participantes que estavam preocupados com algo no questionário, seguido pela recidiva do cancro. 
Contudo, ter discussões acerca do sexo não foi nenhum problema, “pelo contrário, estes jovens queriam muito debater o sexo e todas as questões relacionadas com a sexualidade”, disse a investigadora. 
“Nós, quer sejamos médicos ou familiares, não temos que abordar o tema ‘sexo’ no quarto de hospital, pois existirão outras oportunidades para o fazermos; mas é importante que o façamos. Este tópico pode e deve ser abordado quando os efeitos secundários do tratamento são discutidos. Ao fazermos perguntas, sem qualquer tipo de tabus, pudemos perceber que os sobreviventes queriam conversar sobre o tema”, concluiu a autora. 
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