Um estudo piloto conduzido por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Científicas, uma instituição que é parte integrante da Universidade do Québec, no Canadá, destacou o efeito da quimioterapia na fertilidade masculina antes e depois da puberdade.
“Antigamente, pensava-se que os tratamentos contra o cancro em rapazes pré-púberes não afetariam a fertilidade porque os seus testículos ainda estavam em desenvolvimento. Mas hoje sabemos que, na verdade, os testículos pré-púberes não são imunes à quimioterapia, que pode causar efeitos a longo prazo “, explica Geraldine Delbès, uma das principais autoras do estudo.
Especialista em toxicologia reprodutiva, Geraldine conduziu um estudo piloto em colaboração com oncologistas e especialistas em fertilidade da Universidade McGill, também no Canadá, numa amostra de 13 pacientes, todos sobreviventes de leucemia e linfoma pediátricos.
Os resultados da investigação, publicados na revista Plos One, levantam questões importantes sobre a fertilidade masculina e a qualidade de vida a longo prazo de sobreviventes de cancro infantil.
“A originalidade do nosso estudo está no fato de dissociarmos os efeitos antes e depois da puberdade e de termos descoberto que o efeito da quimioterapia não parece ser dependente da idade. De acordo com os nossos resultados, não existe um ‘período’ em que os meninos são insensíveis à toxicidade da quimioterapia”.
Fatores ainda pouco compreendidos
Grandes estudos epidemiológicos já mostraram que os tratamentos quimioterápicos pediátricos podem afetar a fertilidade masculina a longo prazo, mas o efeito da idade no diagnóstico e o tipo de tratamento na qualidade ou produção do esperma ainda são pouco conhecidos.
Os cientistas analisaram espermogramas e danos no ADN de espermatozoides de adultos sobreviventes de leucemia ou linfoma pediátrico; esses parâmetros foram comparados em pacientes diagnosticados antes e após a puberdade e em homens sem historial de cancro.
Os pacientes da amostra receberam coquetéis de vários tipos de agentes quimioterápicos, incluindo agentes alquilantes, que estão associados à diminuição da produção de espermatozoides a longo prazo.
Qualidade espermática prejudicada
Durante o estudo, os investigadores estiveram particularmente interessados nas antraciclinas, que são usadas no tratamento de vários tipos de cancro; no decorrer da investigação, observou-se que essas antraciclinas, que não deveriam ter um efeito a longo prazo na quantidade de espermatozoides, poderiam afetar a sua qualidade.
Segundo Geraldine, acredita-se que o uso de antraciclinas esteja correlacionado com anormalidades no ADN da cromatina e do esperma a longo prazo. Essas anormalidades são frequentemente associadas a problemas de infertilidade e baixo desenvolvimento embrionário.
“Embora sejam necessárias mais pesquisas em larga escala para confirmar os nossos resultados preliminares, as nossas descobertas são importantes para especialistas em reprodução e oncologistas que aconselham estes jovens adultos sobreviventes de cancro infantil sobre os seus cuidados com a fertilidade”, acrescentou Peter Chan, coautor estudo.
Os investigadores estão cientes das limitações do estudo, principalmente pelo pequeno número de participantes mas, mesmo assim, acreditam que os dados são particularmente relevantes para meninos para os quais o banco de espermatozoides pode não ser viável.
“Normalmente, quando crianças com cancro são tratadas, a equipa médica não está necessariamente focada em preservar a sua fertilidade, uma vez que a prioridade é curar estas crianças. No entanto, graças ao sucesso dos tratamentos contra o cancro, a qualidade de vida a longo prazo está a tornar-se, e bem, cada vez mais uma grande preocupação, e as consequências para a fertilidade desses indivíduos ainda são pouco compreendidas”, rematou Geraldine.
Este estudo destaca a necessidade de mais pesquisas sobre a fertilidade de homens que tiveram cancro pediátrico e a importância de educá-los sobre o potencial efeito a longo prazo da quimioterapia na fertilidade masculina, independentemente da idade no diagnóstico.
Fonte: Eurekalert