Foi durante o 9.º Seminário de Oncologia Pediátrica que foi entregue o Prémio Rui Osório de Castro/Millennium bcp, uma iniciativa que, desde 2017, entrega um prémio anual no valor de 15.000€, tendo em vista o desenvolvimento de projetos e iniciativas inovadoras na área da Oncologia Pediátrica.
Este ano, o júri foi composto por 5 elementos: Maria Karla Osório de Castro, Presidente da FROC, Nuno Miranda, Membro da Comissão para Avaliação de Tecnologias da Saúde e Médico Hematologista no IPOFG de Lisboa, Nuno Farinha, Presidente da SHOP (Sociedade de Hematologia e Oncologia Pediátrica) e médico pediatra oncológico no Hospital de São João do Porto, Maria de Jesus Moura, Diretora Unidade de Psicologia IPOFG de Lisboa e Margarida Cruz, Diretora Geral da Acreditar.
Isabel Antunes, do IPATIMUP e i3S, foi a responsável pelo projeto vencedor da 7.ª edição deste prémio, intitulado “Desvendar o papel da glicobiologia nos sarcomas pediátricos: abrir portas para novas estratégias terapêuticas”. Seguindo critérios como inovação, relevância e impacto esperado, o júri atribuiu também duas Menções Honrosas aos projetos de Ana Vieira, do Instituto Superior Técnico, “ALL4WISH: Design participativo de um videojogo para medir o impacto de experiências de realização dos desejos em crianças com cancro”, e de Rui Manuel Reis, da Universidade do Minho, intitulado “Papel de CD24, uma proteína do ‘checkpoint’ imunológico, na biologia e terapia de meduloblastomas”.
Durante a entrega dos troféus, os responsáveis explicaram, de uma forma muito sucinta, em que consistiam os seus projetos.
“ALL4WISH: Design participativo de um videojogo para medir o impacto de experiências de realização dos desejos em crianças com cancro”
Da autoria de Ana Vieira, docente do Instituto Superior Técnico, este projeto resulta de uma parceria com a Fundação Make-a-Wish, através de um trabalho desenvolvido no âmbito da cadeira de “Medição de valor em saúde”.
“Temos envolvido os nossos alunos de Engenharia Biomédica a ajudar a medir o valor de diferentes intervenções em saúde, sendo uma delas as intervenções levadas a cabo pela Fundação Make-a-Wish”, começou por explicar a investigadora.
“No decorrer dessa investigação, sentimos necessidade de desenvolver ferramentas que nos permitissem medir, de uma forma mais intuitiva, o que é a qualidade de vida e o bem-estar das nossas crianças. Foi neste contexto que nasceu a vontade de desenvolver um videojogo”.
Segundo Ana Vieira, este videojogo utiliza uma escala já estabelecida, mas que “tem uma série de limitações. Sabemos que esta escala não nos permite fazer a medição contínua do que é a qualidade de vida e o bem-estar – assim, o nosso objetivo é desenvolver um videojogo que capture o construto dessas escalas já validadas e em uso, e que nos permita medir de forma continuada, intuitiva e com o envolvimento direto das crianças nessa medição”.
Agradecendo à FROC pela Menção Honrosa – “que nos ajuda a acreditar cada vez mais no nosso projeto” – Ana Vieira lembrou também dois outros investigadores ligados a esta iniciativa: Helena Galharda e Rui Prada.
“Papel de CD24, uma proteína do ‘checkpoint’ imunológico, na biologia e terapia de meduloblastomas”
A explicação acerca da segunda Menção Honrosa do dia ficou a cargo de Rui Manuel Reis, da Universidade do Minho.
“O nosso objetivo é ajudar o sistema imune da própria criança a combater o meduloblastoma, o tumor maligno mais frequente em crianças”, disse.
O investigador relembrou que a imunoterapia “é hoje uma grande solução para o tratamento de vários tipos de tumores em adultos, com taxas de sucesso muito elevadas”. Ainda assim, “quando essas terapias foram aplicadas em crianças com tumores cerebrais, como o meduloblastoma”, os resultados não foram bem-sucedidos.
“Isso deve-se a vários fatores, sendo um deles o desconhecimento de como o sistema imune atua nestas crianças e se os fármacos que são utilizados para tratar os doentes adultos serão os mesmos fármacos que podem ter como alvo moléculas que são importantes em tumores de crianças”.
Feito em parceria com a Universidade do Minho, com o Ipatimup e com o Hospital de Câncer de Barretos, no Brasil, este trabalho começou como um “projeto inicial onde nós tentámos explorar quais as moléculas que, hoje que podem ser alvos de terapêuticas, e como estavam alteradas nestes tumores. O que nós verificámos foi que as moléculas que são utilizadas como alvo para a terapia que existe hoje não estão presentes, o que explica os resultados dececionantes”.
“No entanto”, continuou Rui Manuel Reis, “verificámos que a molécula CD24 dá um sinal para o sistema imune não atacar. Ou seja, quando esta molécula está presente, o sistema imune não ataca. Para além disso, também verificámos que a CD24 está altamente presente nas células destes tumores”.
Assim, investigador explicou que o objetivo deste trabalho é, “através de ensaios pré-clínicos, ou seja, com linhas celulares de tumores, que depois serão implantadas em modelos animais, avaliar o papel da molécula CD24 através de vários processos. Queremos também utilizar fármacos que ainda se encontram em fases iniciais para verificar se em modelos in vitro e in vivo este fármaco funciona”.
“Desvendar o papel da glicobiologia nos sarcomas pediátricos: abrir portas para novas estratégias terapêuticas”
O projeto vencedor da 7.ª edição do Prémio Rui Osório de Castro/Millennium bcp, ao qual foi atribuído um prémio no valor de 15.000€, foi apresentado pela autora Isabel Antunes, do IPATIMUP e i3S.
A investigadora começou por agradecer o importante “apoio para mim e para nós, enquanto grupo de investigação, que há vários anos estuda a glicobiologia no cancro, nomeadamente do trato gastrointestinal em adultos. Entretanto, no final do ano passado, a minha chefe desafiou-me a escrever um projeto”.
Apesar da relutância inicial em aceitar, Isabel Antunes mostra-se hoje realizada, uma vez que este projeto “conta com uma rede excecional de profissionais, com tudo para criar uma intervenção multidisciplinar. No nosso grupo, o que nós queremos é estudar glicobiologia destes sarcomas pediátricos que em tudo são muito diferentes [dos sarcomas em adultos]. E são diferentes porque ocorrem em crianças e em jovens adultos, onde tudo é diferente, desde o sistema imunológico até à resposta”.
“Imaginem uma célula. Todas as células são, à partida, normais e todas elas têm proteínas, que têm uns açúcares agarrados, que podem ser pequeninos e ramificados ou cadeias longas e lineares. E são essas cadeias que têm uma expressão alterada e que comunicam esta sinalização para a malignidade. Com este projeto o que nós queremos é ter algo que nos diga que aqueles sintomas apontam para um sarcoma, por exemplo, que nos apontem para um diagnóstico mais precoce e atempado”.
“Por outro lado, nós temos várias ferramentas que nos vão permitir adequar uma terapia mais dirigida a cada entidade de sarcoma e a cada criança, porque cada caso é um caso”.
No final, Isabel Antunes revelou o desejo de que, no próximo ano espera ter “novidades boas”.
O 9.º Seminário de Oncologia Pediátrica decorreu no dia 11 de fevereiro, no Hospital Pediátrico de Coimbra. Ao longo das próximas semanas, iremos divulgar vários artigos, feitos com base nas conversas tidas durante este dia.
Fonte: Fundação Rui Osório de Castro