Embora a sobrevivência em casos de cancro infantil tenha melhorado significativamente nas últimas décadas, um novo estudo holandês sugere que uma proporção maior desses sobreviventes corre o risco de desenvolver insuficiência cardíaca em idades mais jovens, em parte devido aos tratamentos cardio-tóxicos.
“Como resultado de melhores terapias, a população de sobreviventes continua a crescer”, explicaram os cientistas da Universidade de Amsterdão.
“Sabe-se que 75% dos sobreviventes de cancro infantil desenvolverão, pelo menos, uma condição de saúde crónica, e entre aqueles com 45 anos, 80,5% terão uma condição de saúde grave ou ameaçadora à vida”, lê-se no artigo publicado no Journal of American Heart Association.
Estudos anteriores mostraram que a incidência cumulativa de insuficiência cardíaca sintomática 30 anos após um diagnóstico de cancro infantil varia de 2,7 a 4,1%, enquanto 27% dos sobreviventes tratados com agentes cardio-tóxicos sofreram de insuficiência cardíaca assintomática 15 anos após o diagnóstico.
Para examinar como o risco de sobreviventes desenvolverem insuficiência cardíaca mudou ao longo do tempo, bem como o risco associado a tratamentos específicos, os investigadores analisaram uma amostra de 5 845 sobreviventes, durante cerca de 20 anos, que haviam sido diagnosticados entre 1963 e 2001.
Um total de 116 pacientes – ou 2% – desenvolveram insuficiência cardíaca sintomática durante o acompanhamento.
Os investigadores construíram modelos que estimaram a incidência de insuficiência cardíaca 40 anos após um diagnóstico de cancro, que foi ajustado para o sexo e idade do paciente no momento do diagnóstico, bem como o ano do diagnóstico.
A incidência estimada de insuficiência cardíaca 40 anos após o diagnóstico foi de 4,4%, sendo que essa incidência era pior quando os tratamentos eram mais recentes.
Os autores disseram que o aumento do uso de antraciclinas e mitoxantrona poderia explicar o porquê de os sobreviventes diagnosticados numa data posterior desenvolverem um risco maior de insuficiência cardíaca.
O tratamento com antraciclinas e mitoxantrona, em particular, foi associado a maiores riscos de desenvolver insuficiência cardíaca, e uma relação dose-resposta foi observada com o último medicamento quimioterápico, bem como a ciclofosfamida.
“Os nossos resultados não mostraram nenhuma dose segura para as antraciclinas”, disseram os cientistas.
“Esta descoberta e a associação estatisticamente significativa e relação dose-resposta da mitoxantrona com a insuficiência cardíaca sintomática ressaltam a necessidade de prevenção primária, o uso de doses menores de tratamentos cardio-tóxicos em crianças com cancro, e a consideração de alternativas para a mitoxantrona em novos protocolos de tratamento para crianças com cancro”, concluíram.
Fonte: Cardiovascular Business